quarta-feira, 18 de junho de 2014

Revolução dos Turbantes

Por uma cultura valorizada e respeitada.


 

     Muita gente conhece o turbante, mas não conhece toda sua importância histórica e regional que esta indumentária possui. Ele possui um significado que vai (muito) além do Islamismo ou qualquer religião. Está presente no Oriente Médio, leste e oeste da África, sul da Ásia e tantas outras regiões. As formas de amarrar o turbante formam uma comunicação social que, pode representar a posição social, humor e a tribo a qual pertence. Por isso sua importância regional. Cada turbante tem um significado diferenciado. Contudo, não é sobre o significado da comunicação dos turbantes que quero falar. A "Revolução dos Turbantes" tem um significado diferente, uma proposta diferente. Uma nova forma de divulgação da cultura afro.

     O turbante tem um significado importante para a cultura e religião oriental, e, sem esquecer, para a História. Sair às ruas com seus turbantes - feitos de diferentes maneiras, - é uma forma de propagação da cultura. A cultura africana possui este tipo de indumentária que, não diferente de outras regiões do Oriente, possui vários significados sociais e espirituais. Sair usando um turbante é uma forma da comunidade negra expressar sua cultura. Uma forma de resistir contra todos os preconceitos investidos por uma sociedade que ainda possui considerações preconceituosas, marginalizadoras e ultrapassadas. É um grito de resistência, de cultura, de força, de fé e de estilo. Turbante é usado por homem, por mulher, por criança, por idosos, porque diferente de qualquer outra indumentária, ela é uma indumentária exclusivamente cultural. O Ojá ainda é discutido nas comunidades conceituadas do Candomblé se é, ou não, uma indumentária exclusiva às mulheres. É onde está a diferença. 

     O turbante, em sua essência, tem várias representações pessoais, sociais e religiosas e, incluso nesta campanha, servirá como propagação da cultura oriental (africana sobretudo), contra todas as formas de preconceito. "Quem usa pano na cabeça é macumbeiro!" Uma frase ignorante, preconceituosa e taxativa usada por tanta gente que, no fundo, não entende o motivo de usar um "pano" na cabeça. Vai muito além das considerações alheias. Usar uma peça que faça parte da indumentária africana para nós, que somos de religião de matriz africana e de cultura afro-brasileira, é uma forma de resistência contra todos os ataques cristãos, é resistência contra o tempo que, às duras custas, levou tanta parte importante de nossa cultura. Por isso, a "Revolução dos Turbantes" deve acontecer. E é interessante que fique claro que, não é só o turbante que deve ser usado na luta contra a resistência maligna do racismo e do preconceito religioso que cada vez mais marginaliza; é um gesto simples, bonito, prático, cheio de significados e que pode ditar uma moda. 

     É ter a oportunidade de acabar com tanto racismo. De divulgar e valorizar a cultura negra, de trazer à atualidade, uma cultura que rompeu o tempo e superou todas as barreiras. A Revolução dos Turbantes é, antes de tudo, para a comunidade negra do Brasil e, especialmente, para os que não aceitam tanta marginalização do povo (de cultura) negra. Por isso, para os homens e mulheres, vamos aderir a campanha. Uma forma de diminuir a ignorância humana e o terrível pré-conceito alheio. Pode ser uma excelente arma contra o racismo e toda forma de preconceito que ataca ferozmente a comunidade negra que, ainda hoje, em sua maioria, sonha com uma real dignidade e liberdade para expressar todas as formas de sua cultura. 
À Comunidade Negra!

      Recife, 18 de junho de 2014.                           
                  
            Victor Matheus.

(Imagens da internet)

domingo, 1 de junho de 2014

Vergonha ao professar a fé

Infelizmente não precisamos procurar muito, para poder achar um candomblecista com vergonha em revelar e declarar sua religião. Muitos com vergonha, se declaram católicos. Qual será o motivo de tanta omissão? Em pleno século XXI, milhares de pessoas com cultura de matriz africana, não revelam sua identidade, sua religião, sua cultura e o pior, não assumem sua fé. O preconceito excludente ainda é majoritário na sociedade. Sobretudo parte de outros religiosos, em sua maioria, dos cristãos. De modo geral, quando achamos que nossa verdade é absoluta, estamos deixando a evolução - seja ela científica ou espiritual. Esse é um dos maiores motivos pra tanta capa. Contudo, esconder suas raízes, sua fé, sua cultura e religião, é o mesmo que negar sua cor, seu país, sua existência como homem e mutável. Tragamos para um exemplo prático e corriqueiro: Alguém encontra numa encruzilhada o popular "despacho", se falar "chuta que é macumba", a grande maioria dos que ouvirão não irá repreende-lo. Mas, se este mesmo alguém olhar para uma Bíblia e disser "chuta que é bíblia", será logo retalhado. Qual será o motivo? É simples de entender. A sociedade acostumou-se a relacionar o Candomblé e Umbanda como religiões demoníacas, de "magia negra" e outras relações que costumam fazer. O primeiro ponto a ser abordado é: Costumam dividir e conceituar a magia como branca e negra. Qual será o motivo da magia negra ser ruim? Tudo que é negro é ruim? Se observarmos historicamente, respondemos esta questão. São esses motivos e tantos outros, todos gerados e rodeados pelo preconceito e pela marginalização, que levam o povo de santo (em sua maioria) a viver ocultamente na sociedade. Vivem sob a declaração de "sou católico", "não tenho religião, mas acredito em Deus". Devemos sim, hoje mais do que nunca, revelar nosso credo. Somos sim do AXÉ, cultuamos sim, os deuses africanos, nossos ancestrais divinizados. Não importa se você cultua Òrísá, Nkisse ou Vodun, qualquer que seja sua "nação", suas raízes e suas considerações sobre o que é, ou deixa de ser fundamento ou candomblé de fato. Não podemos nos omitir, não podemos negar nossa fé. Se o outro não crê em nossos Orisás, um direito que lhe assiste, contudo, considerar que nosso culto e nós somos do Diabo (personagem judaico-cristã), é questão de falta de conscientização. E essa conscientização só acontecerá se nós, povos de terreiros de todo o país, nos unirmos contra todo este tipo de preconceito que é parido pela ignorância do ser humano. Temos fé, temos culto, temos tradição, temos cultura, somos um povo que precisamos ter voz ativa na sociedade. E não precisamos de um que nos represente. Nós somos e fazemos nossa própria representação. Cada um representando aquilo que acredita sempre. Sem precisar esconder, nem recorrer a nada invés de revelar seu culto e fé. "Quem é de Candomblé, diz que é!"

Olà onà gbogbo!

sábado, 2 de novembro de 2013

Lei 10.639/03 longe da realidade

Uma luta pela valorização e o ensino da cultura africana e afro-brasileira.

    A cultura africana era lembrada nas aulas de História, quase unicamente, quando se falava na escravidão negra no Brasil. Primeiramente, é necessário ter a noção do que significa a palavra "escravo". Sociológicamente, a palavra é relacionada ao trabalho, meios de produção e condições de trabalho. O que não podemos esquecer, é que ninguém nasce escravo. As pessoas não podem nascer escravos, se tornam escravos. Não por vontade própria, são escravizadas por não terem acesso ao que desejam e necessitam ter. O termo escravo passa uma ideia de que estar escravizado, é uma condição inerente ao ser humano. Além de possuir um termo pejorativo e preconceituoso, sem dúvidas. O negro africano, através do ensino da história, foi visto por várias décadas, como na condição de escravo passivo e submisso. 
    A lei criada em 2003 passa a ideia de uma reforma no ensino da História, os professores devem reforçar a cultura afro-brasileira e africana, ensinando e repassando a culinária, a dança, a organização político-espacial e as religiões africanas. Junto da lei 10.639, veio o Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), que reforça a ideia do combate ao racismo social e institucional. Lembrando da morte do combatente e líder quilombola Zumbi dos Palmares, como forma de intensificar o combate ao racismo. Após a lei 10.639/03 que mostrava caminhos para o ensino da cultura afro nas escolas, veio a lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da cultura africana e afro-brasileira como um todo. Falando em todos os pontos de sua cultura, que tanto contribuiram para a formação da nossa. 
    Infelizmente, muitas escolas não cumprem a lei. Professores desatualizados insistem em ensinar a parte da história onde o negro é escravizado. Deixando para trás toda sua riquíssima cultura. Qual o motivo disso? É ridículo saber que o ensino da cultura afro não é repassado por alguns professores, porque acham que ensinar a história da cultura africana é simplesmente, ensinar o Candomblé. Primeiramente devemos esclarecer tudo. Não existe Candomblé em África! O Candomblé foi criado no Brasil, a religião, o culto, os rituais é que vieram da África. A religião africana, que não é homogênea, deve ser ensinada. Não é necessário se aprofundar no assunto. Basta apenas ensinar que as religiões africanas, as sociedades que lá existiam, são as mais antigas. Muitas vezes o preconceito existe por causa da ignorância. Quando não se conhece, acontece o pré-julgamento. Algumas crianças candomblecistas, tem medo de revelar sua fé, sua cultura e religião, por medo de ser ridicularizada e vítima de Bulliyng por colegas de sala. É difícil e tudo isso é por falta de informação.
    A lei existe e deve ser praticada. O ensino da cultura afro é obrigatório. Falar das comidas, da dança, da música, da organização econômica, política e social é importante. E com certeza, deve-se falar sobre as várias religiões da África. É necessário uma fiscalização nas escolas a respeito da lei. Uma cultura que na diáspora foi tão marginalizada, tão devastada e, sobretudo, modificada, deve ser ensinada como realmente é.
Texto de Victor Matheus, autor do blog e administrador da página Portal do Yawô no Facebook.
 
                                     Até a próxima, prosperidade e bençãos no seu caminho.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Ìyámassè Málè: a rainha de Oyó, a mãe do fogo

    Negar sua existência é impossível. A matriarca do fogo, a verdadeira rainha de Oyó: Tòrosi. A ancestral do fogo, do raio, a esposa de Òranmìyàn: o primeiro Aláàfin de Oyó. Tòrosi foi rainha de Nupe, filha do rei Elempè. Ela também é conhecida como Ìyámasse Málè. Ela é a mãe de Sàngó, o terceiro Aláàfin de Oyó.
    Tòrosi possui característica de uma estrategista. Princesa herdeira do trono de Nupè, ensinou Sàngó a ser rei. O Eterno rei de Oyó, faz parte da família do fogo, que denominarei aqui como "Ègbé Ìná". Por isso, ela deve receber o título verdadeiramente de rainha de Oyó. Que era um reino com características de império dentro da Nigéria. Politicamente, tudo acontecia em Oyó. Por isso, para a cultura nigeriana, o grande e supremo Aláàfin é de lá. 
    Não se pode saber mais coisas sobre esta divindade, devido à perseguição religiosa, o culto às divindades africanas sofreu transformações significativas. Muitas divindades perderam seu culto, causando um enorme e irreparável prejuízo em nossas tradições. O culto à Ìyámasse se perdeu ou foi "esquecido", dando espaço para Yemojá na diáspora, ser cultuada como mãe de Sàngó. Não podemos culpar ninguém. Nossa tradição sobreviveu até hoje pela oralidade. Sem este milenar meio de comunicação, o Candomblé não existiria, os orixás não seriam cultuados e toda a história e cultura de um povo há milhares de anos, estariam perdidos. Através do repasse dos Itàns (histórias/lendas) é que a "Resistência Negra" existe.
    Quando atribuiu-se à Yemojá o título de mãe de Sàngó, não foi por vaidade. Foi por necessidade. De qualquer maneira, Ìyámasse continua viva. Um filho não pode viver sem seus pais. (Talvez por isso exista a extrema necessidade de atribuir a alguém a maternidade do terceiro rei de Oyó.) Quando se louva a Sàngó, estamos louvando toda a Ègbé Ìná. Que podemos dizer que, sem dúvidas, participam desta família os orixás: Sàngó, Òranmìyàn, Ìyámassè Málè, Àiyrá e outras divindades. Grande parte dos orixás cultuados no panteão do fogo - ìná, também são cultuados na família dos raios - ààrá.
    O que não podemos esquecer, mesmo não tendo mais rituais para se cultuar Tòrosi, é que ela está presente em tudo que fazemos. Principalmente para quem carrega os odús (caminhos) de Sàngó e sua família sobre a vida. Na diáspora africana, muitos cultuam Ìyámassè Málè, como uma "qualidade" de Yemojá, assim como muitos fazem com o orixá Oko, que é confundido como uma "qualidade" de Òsáàlá. O que não podemos deixar que se perca de uma vez por todas, é o culto aos orixás que já cultuamos e que os que infelizmente se perderam, por um processo quase devastador de nossa religião, através do tempo, do cruzamento do Atlântico e pela opressão da sociedade arcaica, cristã e preconceituosa da época se percam na memória dos mais antigos. Tòrosi não pode ser cultuada, mas, pode ser louvada. E é isso que deveríamos fazer. Buscar forças, ensinamentos e itàns para louvar a divindade mãe do fogo e verdadeiramente, de Sàngó. Quem anda sobre os caminhos de Ìyámassè Málè, possui o dom de dominar. Possui em suas mãos, a natureza do fogo, o poder sobre o controle da natureza e dos homens. Politicamente, ela é uma sábia que entrega à seus filhos, parte de seus ensinamentos. 
Agò òrisá, mo ki ò ayabá! Olú Ìná, Olú Ààrá, Ìyá mi mímó
(Com sua licença orixá, meus respeitos rainha! Dona do fogo, dona dos raios. Minha mãe sagrada.)
Texto de Victor Matheus, autor do blog e administrador da página Portal do Yawô no Facebook.
*A imagem é de autoria da página Guto Reason no Facebook.
                                                                       Até a próxima, bençãos e prosperidade à todos!

7ª Caminhada de Terreiros de Pernambuco: por uma sociedade mais tolerante

    Pernambuco tem um dos maiores índices de candomblecistas no Brasil. No Nordeste, sem dúvida, só fica atrás da Bahia: o pedacinho da África no Brasil. Embora a comunidade de terreiro seja grande, não era tão forte assim. Sofrendo desde séculos passados, ações preconceituosas de grande parte da sociedade.         Candomblé era e até hoje é visto por alguns, como culto aos demônios. Diante disso, as comunidades tradicionais de terreiros de Pernambuco se uniram, convergindo numa ideia, comungando de um mesmo propósito: intensificar o combate da intolerância religiosa e aumentar a conscientização tanto do povo de terreiro, quanto da sociedade, que muitas vezes comete intolerância religiosa por ignorância.
    A Caminhada ocorre no centro do Recife - capital do Estado - onde percorre várias ruas da cidade. A Caminhada também é uma forma de manifestação, onde o povo de matriz africana exige seus direitos. A Caminhada dos Terreiros é em homenagem à Ògún: o òrìsá dos caminhos; aquele que abre todos os caminhos para que possamos passar. É o nosso temível, amado e implacável guerreiro, o patrono da Caminhada.
    Anualmente na primeira semana de novembro, a Caminhada arrasta milhares de pessoas, louvando, dançando para seus Òrìsás/Nkissis/Voduns e enaltecendo a cultura e diversidade do Candomblé através de toda a indumentária africana. Cada um se veste à caráter de um culto religioso - mais uma forma de acabar com uma visão preconceituosa, marginalizadora que muitos ainda custam ter. Grandes nomes do Candomblé de Pernambuco participam da Caminhada todos os anos. A Ìyalóòrìsá Elza t' Yemojá, Bàbálóòrisá Ademir t' ÒlóògúnÈdé, Fernando t' Odé, Cleyton t' Òsún e tantos outros. Além, é claro, de toda a comunidade de terreiro de Recife, Olinda e todas as cidades do Estado que comparecem, convergindo cada vez mais para uma sociedade sem preconceitos e intolerância religiosa.
    Pernambuco está caminhando para um Estado Laico e com diversidade religiosa tolerante. O Candomblé, sem dúvidas, tem sua participação assídua neste processo. São vários eventos em pról da cultura africana. Este ano (2013), a Praça do Arsenal do Recife - Marco Zero, foi palco da 7ª Exposição Culinária Afrobrasileira no Ciclo Junino, também em Junho, ocorreu a Festa do Fogo em homenagem à Sàngó. No fim do ano, na praia do Pina também no Recife, acontece as entregas das Panelas de Yemojá, momento histórico e sagrado para o povo de Candomblé.
    "Nas ruas do Recife, em meio às comemorações de Junho, acontece nossa Exposição. Este evento traz as possibilidades e similaridades da Gastronomia Tradicional e as dos Terreiros. [...] Daí surgiu a ideia de contarmos como tudo isso acontece, onde apesar dos ritos diferentes, convergíamos; tivemos como resultado, um misto de Festejos regados a aromas e sabores jamais vistos em nosso Estado." - Mãe Elza de Yemojá Ògúnté, Ìyálòrìsá do Ilé Àsé Ègbé Awò (Casa dos Segredos).
    É assim que a comunidade de terreiro de Pernambuco cresce, converge e se fortalece cada vez mais. A cada ano, a Caminhada só faz crescer em número e tomar proporções interestaduais. É desse jeito que o Candomblé prospera. É dessa maneira, lutando, se manifestando socialmente da maneira correta, agindo judicialmente e popularmente contra o preconceito, intolerância religiosa, racismo, marginalização social, religiosa e econômica que nosso povo deixará de ser oprimido diante de ignorantes, alienados e preconceituosos arcaicos. Assim como na Caminhada de Terreiros de Pernambuco, Ògún passe na frente e abra todos os seus caminhos. Que Òlóòrún e todos os Òrìsás nos abençoe.
Texto: Victor Matheus, autor do blog e Omo Òrìsá t' Òsún.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ancestralidade e cultura NAGÔ

EGBÁ NAGÔ, A PARTE DA ÁFRICA QUE VEIO COM IFÁ TINUKÉ.

O axé veio com a sacerdotisa Inês Joaquina da Costa, fundadora da comunidade e "nação" Nagô. Primeiramente, Nago (Nagô), é o nome que se dá a todo negro da costa Africana que fala o Yorubá. Toda nação que segue a cultura Yorubá faz parte dos Povos Nagôs. O que diferencia cada "nação", é a comunidade da qual ela se originou. Já não digo das novas nações, que se derivam de outras. Mas, as mais antigas, foram trazidas por algum sacerdote. Aqui em Pernambuco, Tia Inês (como era conhecida Ifá Tinuké), foi quem fundou o Ilê Obá Ogunté. (O Sítio de Pai Adão, não tinha esse nome na época de Tia Inês, o Nagô é uma nação de Òsún, pois a fundadora dela, era sacerdotisa de Osun). O Obá Ogunté, foi o primeiro terreiro de candomblé do Brasil, a ser tombado e registrado por um governo estadual. Em 1985, há 28 anos. Só de terreiro aberto, são 138 anos de tradição. Após a morte de Ifá Tinuké, foi Ope Watanan (Felipe Sabino da Costa - Pai Adão) quem liderou o terreiro. Depois do Obá Ogunté, outros terreiros Nagôs, foram criados. Todos eles, na mesma época, no final de 1800 pra o início de 1900, foram criados por sacerdotisas. A tradição Nagô se espalhou muito rápido em Pernambuco; até aproximadamente 1950, outros 20 terreiros foram abertos, mesmo com toda repressão do governo e sociedade. O Nagô se espalhou e tomou quase todas as regiões do Brasil. No Nordeste teve mais influência. Chegou ao Rio de Janeiro e a São Paulo, Maranhão, Bahia e outros estados... A ancestralidade Nagô trazida por Tia Inês, veio de duas regiões da Nigéria: o estado de Ogun e a região de Lagos. Por ser originada nas terras de Ogun, reverencia muitíssimo Yèmodjá que era cultuada no Rio Ogun no estado de Ogun na Nigéria. "A bandeira" do Nagô é o orixá Songo (Xangô); por algumas questões. Primeiro por ele ser considerado um Àláàfín de Oyó, a própria justiça na terra. O deus do fogo e etc. Depois, por ser considerado (pelo povo Egbá e Ketú), um filho de Yèmojá e também, por outras questões ritualísticas. Também, quem tem certo "culto diferenciado" é Òsún. Na região dos Lagos, a rainha de Osogbo é venerada grandiosamente. E também, é a divindade de Ifá Tinuké; nas saudações de Òsún no Nagô, o nome de Tia Inês não pode faltar! É a ancestral que carrega a ancestralidade Nagô. Atualmente, quem rege o Obá Ogunté é o babá Manoel Papai. (Por que não chamá-lo de bàbálóòrisá sendo ele Ogan?! Eu o chamo.) Outro homem que tem grande prestígio e perfil religioso dentro do Nagô é o Alápini Ifátòògún Paulo Braz: o Tìlode Yorubá! (O sumo sacerdote do culto dos ancestrais). O Nagô, é considerado por grandes sacerdotes, como a nação mais linda existente no Candomblé. As tradições seguem as mesmas desde que Ìyá Ifá Tinuké nos deixou. São 138 anos de ancestralidade viva. O cruzamento do Atlântico, da África à sua diáspora, o tempo, a opressão social, o preconceito e exclusão social por causa da religião e etnia, não foram suficientes pra acabar com a tradição trazida da costa da África. Somos todos, povos Nagôs, somos todos, africanos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

OXUM: a fonte de vida no Candomblé

Peço licença para viajarmos na leitura. Falaremos sobre uma das divindades mais lindas e poderosas do panteão Yorubá: Òsún. Não falaremos de seus Itàns, tentei abranger de forma simplificada o culto à esta divindade tão linda. Osogbo, terra encantada e sagrada de Òsún. Na Nigéria, Oyó sempre foi muito mais desenvolvido que qualquer outro lugar. No período que eram aldeias, tribos, reinos, Oyó era o reino "político"; onde se concentrava o rei maior, o Àláàfín. Título dado à Sòngó, filho de Òrànmíyàn e Tòròsi.

As terras de Osun eram conhecidas como encantadas. A deusa do mistério, do encanto, da beleza era cultuada por lá. O que hoje é o estado Osun, antes era um território cheio de tribos e aldeias. No rio Osun, que deu o mesmo nome ao estado, é onde tem o santuário da divindade. Òsún é cultuada por vários motivos. Seus filhos (as), vão ao rio entregar-lhe presentes e fazer pedidos. Mulheres vão pedir fertilidade; homens vão pedir prosperidade. Em um dos seus Itàns, Òsún é considerada a dona da fertilidade. Sendo ela unicamente responsável pelo dom da maternidade; é ela quem cuida da mulher e da criança desde o período embrionário.

Ela também é considerada como a deusa da prosperidade. Tudo que Òsún toca, torna-se próspero. Ela é a dona da riqueza (material e espiritual), portanto, é louvada para abençoar os caminhos da vida de seus pedintes. Para os Nigerianos, as águas do Rio Osun são sagradas. Na diáspora africana, Òsún é tida também, como a deusa do amor. Alguns pesquisadores, atribuem esse título dado à Òsún, a Mitologia Greco-romana. Aphrodite era considerada a deusa da beleza e do amor para os gregos.

Sendo ou não, Òsún também é louvada para abençoar seus filhos com um amor. O fato é que: Sem Òsún não há candomblé. Sem Òsún não há vida! O que um homem pode fazer sem prosperidade? É preciso que seus caminhos estejam abertos, para que tudo aconteça naturalmente. Como a humanidade prosseguirá sem fertilidade? O que seria da humanidade sem as mulheres? O que seria da gestação sem homens férteis? Neste ciclo, Òsún é essencial e indispensável. Deixar de cultuar Òsún, é como deixar de beber água. Òsún é a vida! Tituniké Ò fì dé rì omon! Aiyabá omí, Òsún ìyá mi. Ìyá mí Ìybotò, Òsún Ìypondá, Òsún Ìykarè, Òsún Àladè, Òsún Òpáárá, Òsún Ìjémún, Ìyá Yèyé Òke, Òsún Bakundè.. Texto de Victor Matheus, autor do blog "Axé sem Fronteiras".