sexta-feira, 1 de novembro de 2013

7ª Caminhada de Terreiros de Pernambuco: por uma sociedade mais tolerante

    Pernambuco tem um dos maiores índices de candomblecistas no Brasil. No Nordeste, sem dúvida, só fica atrás da Bahia: o pedacinho da África no Brasil. Embora a comunidade de terreiro seja grande, não era tão forte assim. Sofrendo desde séculos passados, ações preconceituosas de grande parte da sociedade.         Candomblé era e até hoje é visto por alguns, como culto aos demônios. Diante disso, as comunidades tradicionais de terreiros de Pernambuco se uniram, convergindo numa ideia, comungando de um mesmo propósito: intensificar o combate da intolerância religiosa e aumentar a conscientização tanto do povo de terreiro, quanto da sociedade, que muitas vezes comete intolerância religiosa por ignorância.
    A Caminhada ocorre no centro do Recife - capital do Estado - onde percorre várias ruas da cidade. A Caminhada também é uma forma de manifestação, onde o povo de matriz africana exige seus direitos. A Caminhada dos Terreiros é em homenagem à Ògún: o òrìsá dos caminhos; aquele que abre todos os caminhos para que possamos passar. É o nosso temível, amado e implacável guerreiro, o patrono da Caminhada.
    Anualmente na primeira semana de novembro, a Caminhada arrasta milhares de pessoas, louvando, dançando para seus Òrìsás/Nkissis/Voduns e enaltecendo a cultura e diversidade do Candomblé através de toda a indumentária africana. Cada um se veste à caráter de um culto religioso - mais uma forma de acabar com uma visão preconceituosa, marginalizadora que muitos ainda custam ter. Grandes nomes do Candomblé de Pernambuco participam da Caminhada todos os anos. A Ìyalóòrìsá Elza t' Yemojá, Bàbálóòrisá Ademir t' ÒlóògúnÈdé, Fernando t' Odé, Cleyton t' Òsún e tantos outros. Além, é claro, de toda a comunidade de terreiro de Recife, Olinda e todas as cidades do Estado que comparecem, convergindo cada vez mais para uma sociedade sem preconceitos e intolerância religiosa.
    Pernambuco está caminhando para um Estado Laico e com diversidade religiosa tolerante. O Candomblé, sem dúvidas, tem sua participação assídua neste processo. São vários eventos em pról da cultura africana. Este ano (2013), a Praça do Arsenal do Recife - Marco Zero, foi palco da 7ª Exposição Culinária Afrobrasileira no Ciclo Junino, também em Junho, ocorreu a Festa do Fogo em homenagem à Sàngó. No fim do ano, na praia do Pina também no Recife, acontece as entregas das Panelas de Yemojá, momento histórico e sagrado para o povo de Candomblé.
    "Nas ruas do Recife, em meio às comemorações de Junho, acontece nossa Exposição. Este evento traz as possibilidades e similaridades da Gastronomia Tradicional e as dos Terreiros. [...] Daí surgiu a ideia de contarmos como tudo isso acontece, onde apesar dos ritos diferentes, convergíamos; tivemos como resultado, um misto de Festejos regados a aromas e sabores jamais vistos em nosso Estado." - Mãe Elza de Yemojá Ògúnté, Ìyálòrìsá do Ilé Àsé Ègbé Awò (Casa dos Segredos).
    É assim que a comunidade de terreiro de Pernambuco cresce, converge e se fortalece cada vez mais. A cada ano, a Caminhada só faz crescer em número e tomar proporções interestaduais. É desse jeito que o Candomblé prospera. É dessa maneira, lutando, se manifestando socialmente da maneira correta, agindo judicialmente e popularmente contra o preconceito, intolerância religiosa, racismo, marginalização social, religiosa e econômica que nosso povo deixará de ser oprimido diante de ignorantes, alienados e preconceituosos arcaicos. Assim como na Caminhada de Terreiros de Pernambuco, Ògún passe na frente e abra todos os seus caminhos. Que Òlóòrún e todos os Òrìsás nos abençoe.
Texto: Victor Matheus, autor do blog e Omo Òrìsá t' Òsún.

Um comentário:

  1. Muito bom, não sabia da existência da Caminhada de Terreiros em Pernambuco. Um movimento muito importante para os povos de terreiro que ainda hoje, sofrem, sendo vítimas de preconceito e exclusão racial. Ogun ire gbogbo!

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